Novos Estudos Pessoanos'19 Ponto de situação
Auditório da Casa Fernando Pessoa
Entrada livre
Dois anos após o Congresso Internacional Fernando Pessoa reunimo-nos para acompanhar a investigação feita no campo dos estudos sobre Pessoa. Neste encontro anual aberto a todos, os investigadores apresentam, em vários painéis de discussão, publicações recentes e estudos desenvolvidos no último ano.
PROGRAMA
ABERTURA | 10H30
Clara Riso – Directora da Casa Fernando Pessoa
10H45 - 12H00
MESA 1 - Trabalhos em curso nas colecções da CFP
Moderação: Pedro Sepúlveda
Teresa Monteiro
Doação José Blanco – tratamento e digitalização
Passados três anos sobre a apresentação pública da Doação José Blanco, faz-se um ponto de situação sobre os trabalhos desenvolvidos em torno desta colecção.
Reflectimos sobre o que temos, o que fizemos, que dificuldades encontrámos e como as superámos, e onde queremos chegar. É um projecto de continuidade.
Neste âmbito destacamos a parceria com a Universidade Nova, IELT – Instituto de Estudos de Literatura e Tradição, como marco de boas relações institucionais e a ligação da Casa a uma área que lhe é muito cara: o apoio à investigação pessoana.
Pedro Azevedo
A avaliação da Biblioteca Particular de Fernando Pessoa: critérios e dificuldades
No início da intervenção serão abordados, de forma sucinta, os principais factores de valorização (positiva ou negativa), habitualmente utilizados na avaliação de documentos impressos. Segue-se uma breve caracterização do universo avaliado, constituído pelos perto de 1200 títulos que compõem a Biblioteca particular de Fernando Pessoa.
Depois de um esclarecimento sobre os critérios, previamente definidos, que estiveram na base da atribuição dos valores individuais, serão apresentados, com recurso a imagens, exemplos de documentos das diferentes tipologias, bem como alguns casos que, pelas suas particularidades, se revelaram de especial dificuldade.
Teresa Filipe
Pessoa, tradutor sucessivo de Shakespeare
A Biblioteca Particular de Fernando Pessoa possui um exemplar de The Tempest, de William Shakespeare, de 1908, adquirido em Lisboa na livraria inglesa de M. Lewtas & M. Taboada, situada na Rua do Arsenal. Este exemplar encontra-se assinado por Fernando Pessoa e exibe anotações em 102 das suas 141 páginas, a maioria das quais são tentativas de tradução para português da peça do dramaturgo inglês. As anotações foram efectuadas com pelo menos 4 diferentes instrumentos de escrita, e a presença de numerosas emendas e variantes sugere que o autor o terá usado como exemplar de trabalho para diferentes campanhas de escrita e revisão da tradução. Diversos documentos do espólio do autor, à guarda da Biblioteca Nacional de Portugal, atestam que o projecto de tradução e publicação de The Tempest terá ocupado Pessoa, intermitentemente, pelo menos até 1923. Nesta apresentação, discutiremos aspectos documentais do exemplar e tentaremos acercar-nos de uma cronologia das campanhas de escrita abordando algumas das dificuldades na edição destas anotações.
12H15 - 13H30
MESA 2 - Biblioteca esotérica e religiosa de Fernando Pessoa
Moderação: Antonio Cardiello
Rita Catania Marrone
Uma descoberta recente na Biblioteca de Fernando Pessoa: a segunda cópia de Magick de Aleister Crowley
A biblioteca esotérica de Fernando Pessoa é habitada por fantasmas – e não apenas pelo facto de ser obviamente esotérica, mas também porque alguns dos livros que o poeta consultou, que leu e que estão reconhecidamente na base das suas reflexões já não se encontram nas estantes do acervo livreiro à guarda da Casa Fernando Pessoa. É o caso, por exemplo, da valiosa cópia do tratado alquímico Ennoea, ou applicação do entendimento sobre a pedra philosophal, datado 1732, que desapareceu misteriosamente depois de 1980, sem deixar rastos. Diferente, e de alguma forma ainda mais misterioso, é o caso da reencontrada cópia de Magick in Theory and Practice, de Aleister Crowley: apresentar-se-ão a história e as peculiaridades deste precioso exemplar, que emergiu out of the blue depois de anos de esquecimento.
Steffen Dix
Necessidade de uma reclassificação da biblioteca particular de Fernando Pessoa
Um dos instrumentos fundamentais nos estudos pessoanos consiste na possibilidade de consultar a biblioteca particular do poeta que está, deste 2010, disponível na forma digitalizada. Este trabalho notável adoptou a classificação original com que foi publicado, em 1996, no número zero da revista Tabacaria. Nesta classificação, que nasceu de um trabalho pioneiro, surgiu a necessidade de fazer algumas rectificações profundas. Esta comunicação pretende explicar a necessidade destas rectificações, sobretudo a partir de um estudo da “biblioteca religiosa” de Fernando Pessoa. Embora a maioria dos livros desta biblioteca tenham sido classificadas correctamente, na Classe 2, sob a designação Religião. Teologia (títulos: 75; volumes: 83), temos de sublinhar o facto existirem vários livros noutras categorias que pertencem claramente a esta classe. Um outro ponto fraco nesta classificação antiga consiste sobretudo no facto que a religião ser um fenómeno muito vasto e que se deixa definir com alguma dificuldade. Ou seja, seria desejável encontrar uma solução que permitisse uma espécie de sub-classificação em temáticas diferentes, tais como Cristianismo, Ocultismo, Religião Antiga, etc. Assim, o objectivo principal desta apresentação reside numa tentativa de apresentar uma classificação mais sistemática da “biblioteca religiosa” de Fernando Pessoa.
ALMOÇO | 13H30 - 15H00
15H00 - 16H30
MESA 3 - Identidades cosmopolitas
Moderação: Nuno Amado
Fernando Beleza
Pessoa, cosmopolitismo e império
O impulso cosmopolita que moldou a geração do Orpheu tem sido abordado recentemente pela crítica. Particular atenção tem sido dada à dimensão semiperiférica que moldou esse mesmo impulso e ao desejo de abertura da cultura nacional que lhe estava subjacente, especialmente nas produções literárias de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. A contribuição importante que esta corrente crítica deu recentemente aos estudos pessoanos aponta para a necessidade de continuar a ler criticamente o cosmopolitismo de Pessoa, procurando agora aprofundar o conhecimento sobre as várias dimensões teóricas desse pensamento, bem como o seu lugar na longa tradição de articulações de identidades cosmopolitas, desde os estoicos, passando por Kant e indo até à relevância da sensibilidade cosmopolita para teorizadores pós-coloniais como Paul Gilroy e Homi Bhabha. Esta comunicação examinará em detalhe a relação entre cosmopolitismo, império e colonialismo em Fernando Pessoa.
Carlos Pittella
Perdidos & Achados: editar a biografia pessoana de Hubert Jennings
O livro Fernando Pessoa—The Poet With Many Faces, de autoria de Hubert D. Jennings, é a primeira biografia pessoana em Inglês. Originalmente escrito na década de 1970, o livro deveria ter sido impresso em 1974, mas a Revolução dos Cravos interrompeu os planos editoriais. O dactiloscrito, encontrado numa garagem em Joanesburgo, na África do Sul, é enfim publicado em Portugal. Carlos Pittella, o editor da biografia e investigador do arquivo Jennings na Brown University, discute a importância do livro para os estudos pessoanos e apresenta os desafios de edição do texto, incluindo: 1) como localizar os manuscritos referenciados no livro entre os milhares de documentos do espólio pessoano; 2) em que medida ajustar as traduções feitas por Jennings dos poemas de Pessoa, baseadas em edições obsoletas; 3) quando intervir num texto do século XX e/ou deixar notas a um leitor do século XXI.
ENCERRAMENTO | 17H00
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Notas biográficas dos intervenientes:
Antonio Cardiello é investigador bolseiro da FCT com um projecto de pós doutoramento no Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa (IFILNOVA) onde é membro integrado do grupo de pesquisa “Questões da Subjectividade: Filosofia e Literatura”. As suas principais áreas de estudo são as perspectivas comparadas entre tradições filosóficas ocidentais e orientais e a filosofia de Fernando Pessoa, com particular interesse no seu Neopaganismo. Co-director do projecto de digitalização da Biblioteca Particular de Fernando Pessoa (on-line desde 2010), editou "Una Stirpe incognita" (EDB Edizioni, 2016) e co-editou "Nietzsche e Pessoa. Ensaios" (Tinta-da-china, 2016), "Philosophy in the Condition of Modernism" (Palgrave Macmillan, 2018) e a primeira edição crítica de "Obra Completa de Álvaro de Campos" (Tinta-da-china, 2014).
Carlos Pittella é poeta e investigador. Após estudar jornalismo, fez o seu mestrado e doutoramento em Letras na PUC-Rio. Pela Tinta-da-china, co-escreveu "Como Fernando Pessoa Pode Mudar a Sua Vida" (2017), além de editar o "Fausto de Pessoa" (2018) e a biografia "Pessoa na escrita por Hubert Jennings", "Fernando Pessoa, The Poet with Many Faces" (2019). Publicou "Civilizações Volume Dois", seu primeiro livro de poesia, em Coimbra (2005) e foi professor titular do Global Citizenship Experience em Chicago, onde trabalhou de 2010 a 2014. Pittella adora viajar explorando arquivos e contribui regularmente para a
revista Pessoa Plural. Actualmente, trabalha como investigador associado na Brown University e é membro integrado do Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa.
Fernando Beleza é professor Auxiliar na Universidade de Newcastle, no Reino Unido. É co-editor do volume de ensaios "Mário de Sá-Carneiro, a Cosmopolitan Modernist" (Peter Lang, 2017) e autor de vários ensaios e capítulos de livros no campo dos estudos culturais lusófonos. Tem publicado artigos e capítulos de livros sobre Fernando Pessoa, cosmopolitismo(s) modernistas, raça, género e sexualidade nas literaturas e culturas (pós)coloniais lusófonas e ecologias luso-afro-brasileiras.
Nuno Amado é professor na Universidade Católica Portuguesa. Completou o seu doutoramento no Programa em Teoria da Literatura, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com uma tese intitulada "Ricardo Reis (1887-1936)". Em 2008, obteve no mesmo Programa em Teoria de Literatura o grau de Mestre com uma dissertação sobre Franz Kafka. Faz parte da equipa do projecto Estranhar Pessoa.
Pedro Azevedo nasceu em Lisboa, onde, desde 1976, é livreiro-antiquário especializado na organização de leilões de livros, manuscritos e gravuras, tendo sido responsável pela realização de mais de 60 leilões nos últimos 40 anos. Desde 2009, tem colaborado como perito na empresa Cabral Moncada Leilões. Paralelamente, tem exercido a actividade de avaliador de bibliotecas e arquivos, públicos e privados, destacando-se a colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação da Casa de Bragança, Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, Biblioteca Nacional, Torre do Tombo, Palácios Nacionais de Mafra e Queluz, Faculdades de Medicina, de Letras e de Direito da Universidade de Lisboa, Bibliotecas Municipais e outras instituições. Os seus serviços de peritagem têm igualmente sido solicitados pela Polícia Judiciária, Tribunais Judiciais de Lisboa, Associação Portuguesa dos Editores e Livreiros e Associação Portuguesa de Antiquários. Investigador de História do Livro, com larga experiência internacional, é, desde 2008, um dos 50 Membres d'Honneur da "Association Internacionale de Bibliophilie" com sede na Biblioteca Nacional de Paris.Em 2016 foi encarregado da avaliação da Biblioteca Particular de Fernando Pessoa.
Pedro Sepúlveda é professor Auxiliar no Departamento de Estudos Portugueses da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigador do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da mesma faculdade. O seu trabalho centra-se na modernidade literária e filosófica, com acento particular na obra de Fernando Pessoa. Publicou o ensaio decorrente da sua dissertação de doutoramento, Os livros de "Fernando Pessoa" (Ática, 2013), e o estudo antológico "O planeamento editorial de Fernando Pessoa" (em co-autoria com Jorge Uribe, INCM, 2016). Coordena o projecto de investigação "Estranhar Pessoa", financiado pela FCT entre 2013 e 2015 (estranharpessoa.com), e a edição digital dos projectos editoriais e publicações em vida de Pessoa (pessoadigital.pt).
Rita Catania Marrone licenciou-se em Filosofia e é Mestre em Ciências Filosóficas, pela Università degli Studi di Milano, com a dissertação "Sentieri di Gnosi nell’opera di Fernando Pessoa" [Caminhos de Gnose na obra de Fernando Pessoa]. Foi colaboradora da Cátedra de História da Filosofia I (2012-2014), na mesma universidade. Actualmente é membro do Centro de Literatura Portuguesa (CLP) da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e doutoranda do Programa de Doutoramento em Estudos Avançados em Materialidades da Literatura (com financiamento da FCT até Outubro 2018). No âmbito do seu doutoramento, está a desenvolver um projecto sobre a biblioteca esotérica de Fernando Pessoa.
Steffen Dix formou-se em Ciência das Religiões (enquanto cadeira principal, com especialização em Fenómenos Religiosos na Literatura Europeia), Filosofia e Filologia Portuguesa, e doutorou-se na Universidade de Tübingen em Ciência das Religiões.Nos últimos anos trabalhou no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), paralelamente sobre o modernismo em Fernando Pessoa (nomeadamente em relação aos seus escritos teóricos) e sobre a teoria da secularização. No que diz respeito a estes dois interesses científicos organizou diversos eventos académicos, em Portugal e no estrangeiro, participou em projectos internacionais e divulgou as suas pesquisas em revistas académicas ou editoras internacionais. Está a organizar a edição da "Obra Completa de Fernando Pessoa na Alemanha" (no Fischer-Verlage; Frankfurt am Main).Actualmente é coordenador executivo do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião na Universidade Católica Portuguesa (CITER-UCP) onde desenvolve pesquisas sobre a relação entre o modernismo e as transformações religiosas no século XX. Das suas últimas publicações e edições destacam-se a edição fac-similada da revista "Orpheu" (Tinta-da-china, 2015), "Fernando Pessoa – Orpheu: Schriften zur Literatur, Ästhetik und Kunst" (Fischer-Verlage, 2015) ou "Modernismos portugueses 1915-1917: Contextos, Facetas e Legados da geração Orpheu", (número especial da revista “Pessoa Plural”, 2017, com Patrícia Silva).
Teresa Filipe é bolseira de doutoramento da FCT (SFRH/BD/118378/2016) em Crítica Textual com um projecto intitulado Estudo e edição digital da marginália de Fernando Pessoa, Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Licenciada em Filosofia (2010) e Mestre em Filosofia Contemporânea (2012) pela Universidade de Évora. Bolseira de investigação no “Projecto de Edição das Obras Completas de Eduardo Lourenço”, Fundação Calouste Gulbenkian Universidade de Évora (2010- 2015). É autora de "Metafísica da Revolução. Poética e Política no Ensaísmo de Eduardo Lourenço" (2013) e co-tradutora de "O Nomear e a Necessidade, de Saul Kripke" (2012).
Teresa Monteiro foi Bibliotecária na ex-Direcção-Geral de Transportes Terrestres, no Serviço de Documentação e Informação, e na Câmara Municipal de Lisboa, onde coordenou o Centro de Documentação do Edifício Central do Município, o Serviço de Tratamento Técnico da Rede de Bibliotecas de Lisboa e a Biblioteca Municipal de São Lázaro. Desde 2010 é bibliotecária na Casa Fernando Pessoa.