Carlotta Defenu
O original e a cópia
Sinopse: A grande maioria das reflexões críticas sobre a heteronímia pessoana tem-se geralmente desenvolvido em torno de temáticas centrais, tais como a da relação entre sinceridade e insinceridade (Simões, 1950), a natureza explicativa ou mitológica da descrição da génese heterónima (Tamen, 2002; Lourenço, 1973) ou a comparação entre o relato pessoano e as evidências filológicas (Castro, 2014).
Este último polo interpretativo permanece um aspeto até agora pouco explorado, sobretudo no que diz respeito à reflexão sobre as variantes textuais observáveis nos manuscritos dos poemas atribuídos por Pessoa aos diferentes heterónimos.
O objetivo do presente contributo é o de efetuar uma análise genética comparativa dos poemas ortónimos e heterónimos de Fernando Pessoa, na tentativa de demonstrar que durante a composição dos textos heterónimos, o autor afastava-se progressivamente da sua voz ortónima para aproximar-se às idiossincrasias expressivas das vozes heteronímicas. Nesse sentido, o autor ortónimo institui-se como o “poeta original”, o ἀρχή (arqué) fundamental a partir do qual se desenvolvem as vozes poéticas de Campos, Reis e Caeiro, num processo através do qual a individualidade de cada voz heterónima emerge a partir da diferenciação e do afastamento relativamente à voz original do ortónimo.
Nota biográfica: Carlotta Defenu é bolseira de Pós-Doutoramento no âmbito do projeto de investigação Modernismo.pt do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Universidade NOVA de Lisboa. A sua investigação foca-se no tratamento e na edição dos espólios de Ronald de Carvalho e Armando Côrtes-Rodrigues. Doutorou-se em Crítica Textual na Universidade de Lisboa, com uma tese sobre a génese e a reescrita da poesia ortónima de Fernando Pessoa. Publicou vários artigos e capítulos de livros com foco em questões de crítica textual, crítica genética e estudos genéticos de tradução.