Jordi Cerdà
“Pessoa, nativo do reino da Cacânia”. A Pós-modernidade e os seus espaços europeus.
Sinopse: Foi evidenciado que as várias crises de identidade (ideológica, religiosa ou sexual) ou o ceticismo em relação a certas ideias da modernidade experimentadas e desenvolvidas na cultura vienense do início do século XX foram antecipações das múltiplas crises do último terço do mesmo século.
A revalorização desta cultura centro-europeia e o chamado boom pessoano não é apenas uma concomitância, constitui também uma marca cultural deste período de pós-modernidade. Logo após o processo revolucionário português e durante a incorporação de Portugal na Comunidade Económica Europeia, a leitura de Pessoa foi investida de um novo contexto em que se corroborou um (des)encantamento político.
Retiro o título desta comunicação de uma leitura que Agustina Bessa-Luís fez de Pessoa em uníssono com os grandes criadores da Secessão Vienense, nesse reino de Cacânia de que dizia ter-se naturalizado o poeta português. Pessoa é apresentado como um herdeiro crítico e ambíguo do Iluminismo, um representante da Nachmoderne que se realiza pela travessia da modernidade, seu obstáculo dialético e, ao mesmo tempo, sua condição de vida; "Eis o exemplo de modernidade negativa, de revolução conservadora como foi a revolução de Pessoa" (Bessa-Luís, 1988).
O objetivo é, pois, lançar um olhar crítico sobre as leituras feitas nesses anos do boom internacional de Pessoa, em que Portugal colocou o seu grande poeta no cânone europeu.
Nota biográfica: Jordi Cerdà Subirachs é professor de Filologia Românica na Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). Leccionou também na Universidade Nova de Lisboa e na Universitat de Barcelona, e dirigiu a Cátedra José Saramago / UAB. Ao longo do seu trabalho como investigador, publicou diversos trabalhos sobre as relações entre as literaturas ibéricas, especialmente sobre a receção de Fernando Pessoa no contexto catalão e hispânico por extensão.