Rui Sousa
Os heterónimos e as etapas da história das religiões, a partir da Biblioteca Pessoal de Fernando Pessoa
Sinopse: Nesta comunicação, propõe-se uma abordagem a alguns dos livros sobre história da religião conservados na Biblioteca particular de Fernando Pessoa, com particular incidência para John M. Robertson, Henry Drummond e Herbert Spencer, relacionando o percurso histórico patente nesses livros e a estrutura orgânica delineada para o processo heteronímico. Nessas obras, os autores apresentam uma compreensão do percurso histórico das religiões que parte de um momento primitivo associado ao culto do Sol, evoluindo para diferentes mitologias pagãs e, finalmente, para uma ideia de monoteísmo que acaba por anular os diferentes cultos solares. Procurarei explorar a hipótese de os heterónimos representarem, em parte, manifestações dessas etapas, em torno de uma figura de mestre que representa algo próximo do conceito de Pagan Christ, que dá título a uma das obras de Robertson. Assim, procurarei sugerir que Alberto Caeiro, Ricardo Reis, António Mora e Álvaro de Campos exprimem também, no contexto das múltiplas vertentes de interesse de Pessoa, o amplo contacto do poeta com problemas relacionados com a história das religiões e com a constituição mistificadora da figura de Jesus Cristo, assim como da sua inscrição num percurso histórico e cultural que enquadra o projecto Neo-Pagão pessoano.
Nota biográfica: Rui Sousa é Investigador do Grupo 1 do CLEPUL. Mestre em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea (2009) e Doutorado em Estudos de Literatura e de Cultura (2019), pela FLUL. Participou na obra 1915: O Ano do Orpheu (coord. Steffen Dix). Colabora na revista Pessoa Plural e em eventos organizados pelo Projecto Estranhar Pessoa e pela Casa Fernando Pessoa. Publicou A Presença do Abjecto no Surrealismo Português, Do Libertino: revisões de um conceito através do caso de Luiz Pacheco (2023) e Cesariny e o Monstro Pessoa (2024). Coordena o projecto de investigação Contextos Críticos do Modernismo e do Surrealismo em Portugal.