António Apolinário Lourenço
Vida, Morte e Sobrevida de Alberto Caeiro
Sinopse: No período anterior à sua estreia como poeta em português, Fernando Pessoa leu atentamente o escritor latino Horácio, cujo Apodo II, no qual elogia a vida campestre e a ausência de ambições mundanais, merece ser considerado um antecedente direto de dois dos heterónimos: Ricardo Reis e Alberto Caeiro. E é a propósito da redação alegadamente compulsiva de O Guardador de Rebanhos que, em carta a Adolfo Casais Monteiro, Pessoa confessa que fora Caeiro a apossar-se de si quando tentava inventar, para surpreender Sá-Carneiro, "um poeta bucólico de espécie complicada".
Sendo o heterónimo esteticamente mais afastado do autor, Pessoa não lhe concedeu, no ato de nascimento, mais do que o ano de vida suficiente para produzir ficticiamente os poemas que sustentariam um livro a publicar em 1915, sem qualquer associação formal ao autor empírico. Constituiria o ponto de partida de uma criação literária apócrifa, que culminaria com a proclamação futura de um poeta plural e multifacetado. Falhado o projeto, no momento desejado, Alberto Caeiro, cuja poesia foi pela primeira vez publicada na revista Athena em janeiro de 1925 (dez anos após a data fixada para o seu falecimento por Fernando Pessoa), acabaria por conhecer várias mortes e ressurreições.
Nota biográfica: António Apolinário Lourenço é professor aposentado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde lecionou disciplinas de todos os graus académicos, incluindo Estudos Pessoanos. Integra, desde a fundação dessa unidade de investigação, a Comissão Executiva do Centro de Literatura Portuguesa. É autor ou editor de mais de duas dezenas de livros publicados em Portugal, Espanha, Brasil e Estados Unidos da América, entre os quais Identidade e Alteridade em Fernando Pessoa e Antonio Machado (1995), Fernando Pessoa (2009), Guia de Leitura. Mensagem de Fernando Pessoa (2011), O Modernismo (2015, em colaboração com Carlos Reis), e edições anotadas e comentadas de Mensagem (1994, com sucessivas reedições, algumas das quais bilingues), Tempo de Orfeu (2003) e O Marinheiro (2023).