Taynnã de Camargo Santos
“Um animal humano que a Natureza produziu” - Os animais na obra de Alberto Caeiro
Sinopse: Analisaremos a relação entre Alberto Caeiro, o “único poeta da Natureza”, e os animais na sua obra, destacando o seu papel na construção da visão do mundo do poeta. Embora os animais raramente sejam protagonistas, surgem como exemplos de uma existência livre da mediação do pensamento, em consonância com o magistério de Caeiro. No poema XL de O Guardador de Rebanhos, a borboleta representa essa sintonia com a Natureza, em contraste com a condição humana, que não consegue experienciar a realidade sem o filtro do pensamento.
Daremos especial atenção ao editorialmente complexo “ciclo da doença” de O Guardador de Rebanhos, no qual Caeiro expressa um desejo de ser como um animal, algo que contrapõe parte da sua filosofia. Esta análise será comparada com a representação dos animais por outros heterónimos, como Bernardo Soares, para quem os animais refletem as inquietações humanas.
Por fim, com base em Derrida (L'Animal que donc je suis), abordaremos a capacidade dos animais, na visão de Caeiro, de ensinarem os humanos a viver integrados na Natureza, como exemplificado no verso do poema XLIII de O Guardador de Rebanhos: “Passa, ave, passa, e ensina-me a passar”.
Nota biográfica: Taynnã de Camargo Santos é doutorando no programa de Modernidades Comparadas na Universidade do Minho, onde desenvolve a tese "Um catálogo de monstros - os animais em Fernando Pessoa. É mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela mesma universidade com a dissertação Além da Curva da Estrada: metáforas de vida e morte na poesia de Alberto Caeiro e Fernando Pessoa-ortónimo. Licenciado em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Líbero (2007) e pós-graduado em Globalização e Cultura pela FESPSP (2012). É cofundador do coletivo literário Sinestéticas e coeditor da revista digital Agagê 80 e da antologia Posfácios (Urutau, 2021).