Flávio Penteado
Do repto ao rapto ou quatro peças pessoanas do século XXI
Sinopse: Nas literaturas lusófonas, há inúmeras ocorrências de diálogo criativo com a “vidobra” de Fernando Pessoa. Esta comunicação se acerca de tal tendência não por meio da poesia ou da prosa de ficção – caminhos frequentemente percorridos nos estudos pessoanos –, mas sim da dramaturgia. Para tanto, serão discutidas quatro peças compostas por Armando Nascimento Rosa, dramaturgo, ensaísta e criador musical contemporâneo: Audição – Com Daisy ao vivo no Odre Marítimo (2002); Cabaré de Ofélia (2007); Menino de sua avó (2012); O Rapto da Rainha Vitória (2024). As primeiras formam um díptico, cujos nexos mais explícitos remetem a personagens em comum, inspiradas por elementos do universo pessoano: Daisy Mason e Mary Burns (esta também referida no mais recente dos quatro textos). Apesar de a terceira e a quarta peça responderem a regimes distintos de concepção cênica e dramatúrgica, todo o conjunto mobiliza recursos como a aliança entre a investigação documental e a fecundidade imaginativa, o desdobramento das figuras em cena ou o cultivo de elementos paródicos e metadiscursivos. Tais aspectos dão notícia dos influxos de Pessoa em práticas artísticas contemporâneas, para além da hiperexposição a que tem estado sujeito nas últimas décadas.
Nota biográfica: Flávio Rodrigo Penteado é bolseiro de pós-doutoramento do projeto Estranhar Pessoa e membro integrado do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Compõe, ainda, o grupo Estudos Pessoanos, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É também professor adjunto convidado na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa, onde ensina História do Teatro e Literatura Dramática. Publicou diversos artigos em revistas especializadas e capítulos de livros, vários deles focados em Pessoa e nas componentes dramáticas de seus escritos.