Vincenzo Russo

Pessoa e o Ocidente

Sinopse: Fernando Pessoa numa lista de projetos de 1929 chamada Matéria controversa inclui um ensaio que tem por título O Conceito de Ocidentalidade. De que forma Pessoa teoricamente pensou o Ocidente? E sobretudo como é que o conceito de Ocidente que Pessoa herda de várias tradições do pensamento oitocentista é reconfigurado poeticamente ou contribui para desenhar um cronótopo literário?

O conceito de Ocidente como civilização - tal como absorvido pelas leituras da historiografia inglesa, de certa sociologia alemã e do pensamento francês - atravessa os escritos do ensaísta «por subtração» que é Pessoa e dos outros pensadores heterónimos, em particular Ricardo Reis e António Mora: a este último Pessoa atribui em particular a tarefa de apontar - como um certo pensamento da crise europeia o teria feito, entre o final do século XIX e o início do século XX, reagindo à degenerescência da Modernidade - a decadência do Ocidente enquanto civilização moderna. A cultura europeia jogou e jogará durante muito tempo com esta hipótese de declínio, com esta ideia orgânica do fim da civilização ocidental que em Pessoa, como veremos, assume, no entanto, conotações diferentes, sobretudo quando dá corpo a um verdadeiro imaginário poético.

Nota biográfica: Vincenzo Russo ensina Literatura Portuguesa e Brasileira e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Universidade de Milão onde coordena a Cátedra António Lobo Antunes (Instituto Camões). Entre os seus volumes mais recentes: A Resistência Continua. O Colonialismo Português, as Lutas de Libertação e os Intelectuais Italianos (2022); com Roberto Vecchi, A Literatura Portuguesa. Modos de Ler (2022). É tradutor de autores portugueses (Bocage, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Eduardo Lourenço, António Ramos Rosa, José Luís Peixoto). De 2014 a 2021, foi Secretário-Geral e Tesoureiro da Associação Internacional de Lusitanistas. Organizou em 2023 com Miguel Cardina e Elisa Alberani a exposição e o livro Revoluções. Guiné-Bissau, Angola e Portugal (1969-1974) com as fotografias do repórter italiano Uliano Lucas.