Teresa Filipe

“Why am I a boy? – Why aren’t I a chair?”. Shaw, Chesterton, Pessoa.

Sinopse: Os livros e a marginália são instrumentos relevantes para o esclarecimento dos conceitos de intertextualidade e de exogénese (Van Hulle 2023). A biblioteca particular de Fernando Pessoa conserva sete títulos de G. K. Chesterton (1874-1936), fazendo deste, um dos autores actualmente mais representados na colecção bibliográfica do autor português. Um dos títulos de Chesterton, de 1914, é um ensaio sobre o dramaturgo irlandês George Bernard Shaw (1856-1950), também ele representado na biblioteca com quatro títulos da sua autoria. O título de 1914 esteve em parte incerta (Ferrari 2008) até 2019, data em que foi adquirido em leilão público pela Casa Fernando Pessoa, mas já se conhecia um fragmento anotado da sua sobrecapa (BNP/E3, 64-42; Ferrari & Pizarro, 2011: 88).

A marginália pessoana no exemplar revela relações intertextuais estabelecidas com outros títulos do autor (Chesterton), com títulos do autor estudado (Shaw), e outros exemplares da biblioteca particular. Partindo de estudos já efectuados por outros investigadores (Bothe 2013), procede-se no sentido de identificar possíveis marcas da leitura em escritos de Pessoa no espólio 3 da Biblioteca Nacional. Assim, procura-se identificar redes de intertextualidade no processo de escrita, contribuindo para esclarecer modos de apropriação criativa.

Nota biográfica: Teresa Filipe licenciou-se em Filosofia, com especialização em Tradução (2010) e obteve o grau de Mestre em Filosofia Contemporânea (2012), ambos na Universidade de Évora, Portugal. Foi bolseira de investigação no projeto “Edição das Obras Completas de Eduardo Lourenço”, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian-Universidade de Évora, (2010-2015). É doutorada em Crítica Textual com uma tese dedicada ao “Estudo e Edição Digital da Marginália de Fernando Pessoa” (2021), na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É membro do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL), e investigadora da Casa Fernando Pessoa, Lisboa, no projeto de investigação “Marginália de Pessoa”.