Assim vai Maio
Com menos ruído nas ruas, os sons ganham outro lugar. Conseguimos distinguir pássaros, vento, sinos, o eléctrico na Calçada. As árvores nos quintais dos vizinhos, as conversas no pátio das traseiras. Se toca a campainha ou o telefone no apartamento do lado, ou o rádio. Pelo menos nos momentos em que na nossa casa há espaço para isso, chegam aos nossos ouvidos esses sinais de vida livre.
No nosso trabalho deste mês, juntamos vozes a esses sinais: fazemos telefonemas a meio da tarde para ler textos curtos a quem está do outro lado da linha – e fora da rede virtual. Uma conversa breve, um encontro delicado entre quem ouve e quem lê. Em casa, os livros são lugares de convívio – o programa chama-se Leituras ao Ouvido.
Dia 5 de Maio é também dia de vozes e de sotaques. O primeiro Dia Mundial da Língua Portuguesa foi declarado pela UNESCO em Novembro do ano passado para valorizar a língua que é de Camões, Vieira e Pessoa - e de todos os falantes a quem o jogo da gramática, da música e do pensamento possa trazer prazer. Falámos com poetas e investigadores pessoanos para quem o português é língua de escolha, sobre as palavras que os fizeram reparar nesta língua.
Do lado da investigação, avançamos este mês com a publicação online dos textos apresentados em Fevereiro, no colóquio anual dedicado aos novos estudos e publicações recentes sobre Pessoa. O colóquio juntou investigadores e professores no Museu Árpád Szenes – Vieira da Silva e agora, três meses depois, esses trabalhos chegam sem fronteiras aos leitores.
Ao longo do mês, voltaremos aos livros que temos em casa. Os mais manuseados, os recorrentes, os resistentes, os que insistem: aqueles que, muitas vezes, transportam nas margens riscos e notas, sublinhados e gestos vários no corpo da página. As nossas inscrições nos livros, as nossas marcas pessoais de passagem – vão ser chamadas à superfície.
Assim vai Maio, com vozes e traços, vestígios, crítica e livros como lugares de encontros.
Clara Riso · Directora da Casa Fernando Pessoa