A nada imploram tuas mãos já coisas
80
A nada imploram tuas mãos já coisas,
Nem convencem teus lábios já parados,
No abafo subterrâneo
Da húmida imposta terra.
Só talvez o sorriso com que amavas
Te embalsama remota, e nas memórias
Te ergue qual eras, hoje
Cortiço apodrecido.
E o nome inútil que teu corpo morto
Usou, vivo, na terra, como uma alma,
Não lembra. A ode grava,
Anónimo, um sorriso.
Maio, 1927
REIS, Ricardo, Poesia, edição Manuela Parreira da Silva. Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, pp. 100-101