A nada imploram tuas mãos já coisas

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A nada imploram tuas mãos já coisas, 
Nem convencem teus lábios já parados,
      No abafo subterrâneo
      Da húmida imposta terra.  
Só talvez o sorriso com que amavas 
Te embalsama remota, e nas memórias 
      Te ergue qual eras, hoje 
      Cortiço apodrecido.
E o nome inútil que teu corpo morto
Usou, vivo, na terra, como uma alma,
      Não lembra. A ode grava,
      Anónimo, um sorriso.

 

Maio, 1927

 

 

REIS, Ricardo, Poesia, edição Manuela Parreira da Silva. Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, pp. 100-101