Ricardo Reis

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
 
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos Deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

 

1-7-1916

 

 

 

Ricardo Reis,
​​​​​​​Poesia, edição Manuela Parreira da Silva. Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 66.