Humberto Brito

Fragmento e forma

Resumo

“O meu estado de espírito obriga-me agora a trabalhar bastante, sem querer, no Livro do Desassossego”, escreve Fernando Pessoa a um amigo: “Mas tudo fragmentos, fragmentos, fragmentos.” Esta apresentação discutirá a ideia de ‘fragmento’ que encontramos no Livro do Desassossego. Partindo de leituras recentes (Feijó, 2014; Sepúlveda, 2020), serão testadas algumas das suas caracterizações habituais, que o descrevem (paradoxalmente) entre a condição de ilustração do fragmento enquanto género literário (uma versão modernista da estética do fragmento do romantismo alemão), ou a do fragmento enquanto género de fracasso. Em alternativa a estas descrições, e em comparação com a ideia de “esboço perfeito” de Baudelaire, será por fim discutida a teoria de Pessoa segundo a qual toda a arte é um fragmento de uma visão cuja totalidade não pode encontrar uma forma conclusa, o que torna toda a obra poética disjecta membra: “o princípio e o fim de qualquer coisa perdida”.

Nota biográfica

Humberto Brito é fotógrafo e professor de Teoria da Literatura do Departamento de Estudos Portugueses da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Publicou quatro livros: Avaria (2019), Regras de Isolamento (com Djaimilia Pereira de Almeida, 2020), Estrada e Fantasmas (2021) e A Interrupção dos Sonhos (2021).