Miguel Cardoso - Portugal
Vive em Lisboa, onde nasceu, em 1976. Completou um MA em English Studies em Birkbeck College, University of London. Leciona na Universidade Lusófona, no DocNomads, Mestrado Erasmus Mundus em Cinema Documental. A par de textos dispersos em periódicos e antologias, publicou sete livros de poesia, entre eles À barbárie seguem-se os estendais (&etc, 2015), Víveres (Tinta-da-china, 2016) e Mais de mil anos (Douda Correria, 2017). Uma versão breve do livro Passageiros (ainda por editar em português) foi publicada, com tradução de Odile Kennel, na antologia Stippvisiten (Elfenbein Verlag, 2021). Traduziu recentemente textos de Miyó Vestrini (Barco Bêbedo), Anne Boyer (Tinta-da-china) e Sean Bonney (Douda Correria).
16.10.2019
Relembro os princípios e as partes que ficaram
pelo caminho sortes dias claros que cobri de sal
Posto isto, preparo o café,
percorro a casa, além disso
a terra com os próprios olhos
Era uma câmara de ar
Era o meio de Outubro
quando as vidas
se despem frente a um espelho alto
com livros e roupa numa pilha lá atrás
ajeitam-se ao inverno
improvisam o repouso numa só ponta do pé
e se voltam por cima
do ombro para o relento
*
Que dia é hoje
Passageiros
(inédito em português)
edição em alemão na Elfenbein Verlag, 2021, trad. Odile Kennel
Fotografia: © Valério Romão