Chus Pato

Son eu quen corre coas ovellas polas praderías máis arcaicas do futuro
es ti e ti e ti
nada máis nacer envólvennos en vélaros
no Castelo
que son terras altas de enormes fragas
que foron domos cubertos
Ese lugar é un ventre
aniñan nel os corpos-civilización,
unha psique anterga vólveas enxertos (as civilizacións, as técnicas) e sela todos e cada un
dos xestos
Ese lugar é a idea na que nosoutras finamos
arrimamos o rostro á luz e a luz róubanos os ollos
vemos a través delas
das palabras
apalpámolas, abren e obtemos a visión
Escoito a voz entre as paredes

Lembrádeme como eu vos lembro
ósos de grou e voo
cinza


De Sonora, Xerais, 2023

 


Sou eu quem corre com as ovelhas pelas pradarias mais arcaicas do futuro 
és tu e tu e tu 
mal nascemos envolvem-nos em velos  
no Castelo  
que são terras altas de enormes fragas 
que foram domos cobertos 
Esse lugar é um ventre 
aninham-se nele os corpos-civilização, 
uma psique antiga torna-as enxertos (as civilizações, as técnicas) e sela todos e cada um
dos gestos 
Esse lugar é a ideia em que nós mulheres finamos  
chegamos o rosto à luz e a luz rouba-nos os olhos 
vemos através delas 
das palavras 
apalpamo-las, abrem-se e obtemos a visão 
Escuto a voz entre as paredes 

Lembrai-me como eu vos lembro 
ossos de grou e voo 
cinza 

 

Traduzido por João Paulo Esteves da Silva para Lisbon Revisited: dias de poesia

 

I am one who runs with sheep in the most archaic meadows of the future
it’s you you and you 
soon as we’re born, they swathe us in sheepskins 
in the Castle 
which are high lands of enormous forests 
that were covered domes  
That place is a womb 
where civilization-bodies nestle, 
an ancestral psyche turns them into grafts (civilizations, techniques) and seals each and every one
of their gestures 
That place is the idea in which we women meet our end 
we bring our face close to the light and the light steals our eyes 
we see through them 
through words 
we palpate them, they open and we obtain vision 
I listen to the voice between the walls 
 

Remember me as I remember you 
bones of crane and flight 
ash 

 

Traduzido por Erín Moure para Lisbon Revisited: dias de poesia 2023


Se o que preguntas é
“ves fantasmas?”
a resposta é “non”
a resposta é
“fago uso dunha das fórmulas éticas da fala
daquela que se corresponde coa figura poética da vida,
podo situalas, as aparicións, na árbore e nas ribeiras
isto implica que
as miñas arterias deben contar con elas
todos os meus órganos deben contar con elas
darlles un lugar”
Se preguntas “ves fantasmas?”
a resposta é “non”
a resposta é “o idioma constrúe en min unha horta para os defuntos
todos os meus órganos lle ceden o lugar
eles/elas son a memoria un corazón e a linguaxe”
O ceo
con todas as súas luminarias xeómetras
non é diferente á árbore da que se che aparece
Estende a mao, agarra o norte
A noite é outra coa terra

 

De Sonora, Xerais, 2023

 

 

Se o que perguntas é
“vês fantasmas?” 
a resposta é “não”
a resposta é 
“faço uso das formas poéticas da fala 
daquela que se corresponde com a figura poética da vida, 
as aparições, posso situá-las na árvore e nas ribeiras 
isto implica que 
as minhas artérias devem contar com elas 
todos dos meus órgãos devem contar com elas 
dar-lhes um lugar” 
Se perguntas “vês fantasmas?” 
a resposta é “não”  
a resposta é “o idioma constrói em mim uma horta para defuntos 
todos os meus órgãos lhe cedem o lugar 
eles/elas são a memória um coração e a linguagem” 
O céu 
com todas as suas luminárias geométricas 
não é diferente da árvore que te aparece 
Estende a mão, agarra o norte 
A noite é outra com a terra 

 

Traduzido por João Paulo Esteves da Silva para Lisbon Revisited: dias de poesia

 

 

If what you ask is 
“do you see ghosts?” 
the answer is “no” 
the answer is 
“I make use of one of the ethical formulas of speech 
the one that best matches the poetic figure of life, 
I can situate them, the apparitions, in the tree and on riverbanks 
this implies that 
my arteries must include them 
all my organs must include them 
make room for them” 
If you ask 
“do you see ghosts?” 
the answer is “no” 
the answer is “in me the language grows a garden for the dead 
all my organs make room for it  
they are memory heart and language itself” 
The sky 
with all its geometric luminaries 
is not distinct from the tree, which if it appears to you 
Extends its hand, grabs onto the North 
The night is other with the earth 

 

 

Traduzido por Erín Moure para Lisbon Revisited: dias de poesia 


No mes de outubro comprobei
a vibración insuperable das ás dun colibrí.
Na raia entre novembro e decembro
cruzóuseme nos ollos o azul magnético do martiño peixeiro
o antergo alción dos gregos
e aínda tiven a fortuna de sentir
como partía as augas do regato á maior das velocidades.
Onte observei unha curuxa alzando o voo
desde unha das árbores próximas
se cadra unha abidueira
voaba coma un tule de maxestade e algo tímida
a sensación foi estar en presenza de Afrodita.
Ao alisar unha saba para pasarlle o ferro
souben que toda a nosa vida
desde o berce á cova transcorre envolta en lenzos,
cando o alento é o derradeiro e se expande no éter
as teas voan ao seu redor
acompáñano na súa marcha e absolución
por esta razón podemos pensar.
Vallejo escribiu un poema no que fala das pirámides 3  3  3
nel non hai comparecencia de aves
lemos
es el tiempo este anuncio de gran zapatería
de la muerte     hacia     la muerte
ao pasar a páxina
el tiempo tiene hun miedo ciempiés a los relojes.    
O ceo que nos cubre
cando estamos na presenza dunha deusa
e asistimos ao alzarse da curuxa é callado de estrelas
contemplámolo con retardo.
Tres, a serpe apréndenos a mudar de pel
Tres, a serpe apréndenos
que morder unha mazá é comprender as leis do discurso.
Tres, Adán coñecía os signos
na súa boca xiraban baleiros como xira en bucle o tempo.
A nosa vida é unha imaxe
o voo branco e lixeiro, as tebras mestas
medimos a potencia da noite,
por esta causa podemos.

 

De Sonora, Xerais, 2023

 

 

No mês de Outubro comprovei 
a vibração insuperável das asas dum colibri. 
Na raia entre Novembro e Dezembro 
cruzou-se-me nos olhos o azul magnético do guarda-rios 
o antigo alcião dos gregos 
e ainda tive a fortuna de sentir 
como cortava as águas do regato com a maior das velocidades. 
Ontem observei uma coruja a levantar voo 
de uma das árvores próximas 
uma bétula se calhar 
voava como um tule de majestade e algo tímida 
a sensação foi a de estar na presença de Afrodite. 
Ao alisar um lençol para o passar a ferro 
soube que toda a nossa vida 
desde o berço até à cova decorre envolvida em panos, 
quando o alento é o último e se expande no éter 
as telas voam em seu redor 
acompanham-no na sua marcha e absolvição 
por esta razão podemos pensar. 
Vallejo escreveu um poema em que fala das pirâmides 3 3 3 
nele não há comparência de aves 
lemos ​​​​​​​
es el tiempo este anuncio de gran zapateria ​​​​​​​
de la muerte        hacia       la muerte 
virando a página ​​​​​​​
el tiempo tiene hum miedo cienpiés a los relojes. 
O céu que nos cobre 
quando estamos na presença duma deusa 
e assistimos ao levantar voo da coruja é coalhado de estrelas 
contemplamo-lo com atraso. 
Três, a serpente ensina-nos a mudar de pele 
Três, a serpente ensina-nos 
que morder uma maçã é compreender as leis do discurso. 
Três, Adão conhecia os signos 
na sua boca giravam vácuos como gira em torno o tempo. 
A nossa vida é uma imagem 
o voo branco e ligeiro, as trevas densas    
medimos a potência da noite, 
por esta causa podemos.   

 

Traduzido por João Paulo Esteves da Silva para Lisbon Revisited: dias de poesia

 

 

In the month of October I experienced 
the inimitable vibration of the wings of a hummingbird. 
On the cusp between November and December 
my eyes met the magnetic blue of the kingfisher 
ancestor halcyon of the Greeks 
and I even had the chance to sense 
how it parted the creek waters at incredible speed. 
Yesterday I observed a barn owl taking flight 
from one of the trees nearby 
perhaps a birch 
it flew like a tulle in majesty and somewhat shyly 
the sensation was of being in the presence of Aphrodite. 
While smoothing out a bedsheet to iron it 
I realized that throughout our entire lives 
from cradle to grave we are swathed in fabrics, 
when breath takes its last and is expanded into the ether 
textiles take flight along with it 
accompany it in its departure and absolution 
because of this we can think. 
Vallejo wrote a poem that speaks of pyramids 3   3   3 
in it no birds put in an appearance 
we read ​​​​​​​
es el tiempo este anuncio de gran zapatería ​​​​​​​
de la muerte     hacia     la muerte 
then on the next page ​​​​​​​
el tiempo tiene hun miedo ciempiés a los relojes 
The sky that covers us 
when we are in the presence of a goddess 
and witness the owl’s flight is jam-packed with stars 
we contemplate it at length. 
Three, the serpent teaches us to shed our skin 
Three, the serpent teaches us  
that to bite into an apple is to understand the laws of discourse. 
Three, Adam knew the signs 
in his mouth were spinning on empty just as time spins in its loop. 
Our life is an image 
its flight clear and light, its darkness dappled 
we take measure of the power of the night, 
because of this we can. 

 

Traduzido por Erín Moure


Autorretrato ou encontro co xesto e a psique arcaica

 

Se me miras no espello
verás os álamos
cara a nacente un parque
e na súa cima estruturas urbanas,
cara ao por do sol as augas corren ceibas
e as árbores agrúpanse en carballeiras
ou son bóveda para o río
as leiras recollen as augas e reflicten os ceos da invernía
ao fondo, os polígonos.
Se me miras de perfil no espello
verás que o acordar oriéntase cara ao sur
e a roupa da cama tende irresistiblemente cara ao norte.
Durero pintou seis veces a almofada na que durmía
se cadra para descifrar o ritmo das imaxes que só se ven con ollos moi pechos
Se miras o espello
verás un autobús e, baixando, turistas que se interesan polo que ven
verás unha anciá moi erguida
reza e acompaña o seu rezo con desprazamentos que son en si mesmos un rito
non reza porque crea que o meu hálito vai abandonar dun intre para outro o meu corpo
reza porque sabe que as palabras da oración acougan a dor
móvese porque sabe que os xestos e a danza son máis antigos que as palabras.
Non, non foi a morte o que vin
a quen vin foi ao Tempo
vinlle os pés e as pernas, vestía un piterpán e fuxía
naturalmente
vinlle o rodo da capa, unha capa curta
iso é o que vin.
Se o espírito tivese centro
recolleríase aí o estalido dos cincuenta mil búfalos degolados
non o ten
expándese por todos e por cada un dos poros da psique, que é cega
que é arcaica anterior ao xesto
anterior á secuencia de pernas piterpán e capa curta,
ou non?
Os meus soños oriéntanse cara ao sur
porque durmo sobre o costado dereito para non cargar o corazón
corazón sagrado e ardente
ai, corazón!!!

 

De Sonora, Xerais, 2023

 

 

Auto-retrato ou encontro com o gesto e a psique arcaica 

 

Se me olhares no espelho 
verás os álamos 
a nascente um parque 
e por cima estruturas urbanas 
a poente as águas correm livres 
e as árvores agrupam-se em carvalhais 
ou são abóbada para o rio 
as leiras recolhem as águas e reflectem os céus da invernia 
ao fundo, os polígonos. 
Se me olhares de perfil no espelho 
verás que o acordar se orienta para sul 
e a roupa da cama tende irresistivelmente para norte. 
Dürer pintou seis vezes a almofada em que dormia 
se calhar para decifrar o ritmo das imagens que só se vêem de olhos bem fechados 
Se olhares o espelho 
verás um autocarro e, a sair, turistas que se interessam pelo o que vêem 
verás uma anciã muito erguida 
reza e acompanha a reza com deslocamentos que são em si mesmos um rito 
não reza porque creia que o meu hálito vai abandonar a qualquer momento o meu corpo 
reza porque sabe que as palavras da oração aliviam a dor 
move-se porque sabe que os gestos e a dança são mais antigos do que as palavras. 
Não, não foi a morte o que vi 
o que vi foi o Tempo 
vi-lhe os pés e as pernas, vestido de peter pan e fugia 
naturalmente 
vi-lhe a roda da capa, uma capa curta 
foi isto o que vi. 
Se o espírito tivesse centro 
recolher-se-ia aí o estalido dos cinquenta mil búfalos degolados 
não o tem 
expande-se por todos e por cada um dos poros da psique, que é cega 
que é arcaica anterior ao gesto 
anterior à sequência de pernas peter pan e capa curta, 
ou não? 
Os meus sonhos orientam-me para sul 
porque durmo sobre o lado direito para não oprimir o coração  
coração sagrado e ardente 
ai, coração!!!

 

Traduzido por João Paulo Esteves da Silva para Lisbon Revisited: dias de poesia

 

 

Self-Portrait or Encounter with Gesture and Ancient Psyche  

 

If you look at me in the mirror 
you’ll see poplars 
toward sunrise a park 
at its top, urban structures, 
toward sunset the waters run free 
and the trees bunch in oak woods 
or are dome for the river 
the fields soak up water and reflect wintry skies  
behind them, industrial warehouses. 
If you look at me in profile in the mirror 
you’ll see that waking faces south 
while the bedsheets pull irresistibly north. 
Durer painted the pillow he slept on six times 
perhaps to decipher the rhythm of images that come only with eyes shut tight 
If you look in the mirror 
you’ll see a bus disgorging tourists who peer around with interest 
you’ll see an old woman very upright 
pray and accompany her prayer with movements that are in themselves a rite 
she’s not praying because she thinks that my breath is about to leave my body 
she prays because she knows that the words of prayer soothe pain 
she moves because she knows that gesture and dance are more ancient than words. 
No, it wasn’t death whom I saw 
the one whom I saw was Time 
I saw its feet and legs, it wore peter-pan stockings and fled 
of course 
I saw the hem of its cape, a short cape 
that’s what I saw. 
If the spirit had a centre 
it would gather there the tumult of fifty thousand buffalo with throats slit 
it has no centre 
it expands through each and every pore of the psyche, which is blind 
and is archaic and precedes gesture 
and precedes the sequence of peter-pan legs and short cape, 
or not? 
My dreams are oriented to the south 
because I sleep on my right side so as not to put pressure on my heart 
sacred and ardent heart  
Aië, heart!!! 

 

Traduzido por Erín Moure para Lisbon Revisited: dias de poesia 


Cae a noite
a luz única e feble
está sobre a páxina
nela un home dispón grandes lenzos
éncheos con terra da horta
que foi da casa
anoa os puntos cardinais
son vultos transportables
de lado dun gran valo de pedra
os ollos afanse na tebra ao fulgor das teas

o rigor
dará conta destas sacas
alzará os retallos
axítaos como o vento move as velas da nave
terra e cinza no ángulo da páxina
lévoa sobre o beizo
coma quen se adorna do pétalo dunha caléndula ou flor da marabilla

nunha das críticas o filósofo escribiu
que gritamos porque ao nacer somos sen defensa
porque amamos a saída
a evasión
o cruce das fronteiras

o natal o loito son ingrávidos
a placenta que nos envolveu e a terra que se desprende

o desexo

 

De Sonora, Xerais, 2023

 

Cai a noite 
a luz única e fraca  
está sobre a página 
nela um homem põe grandes panos 
enche-os com terra da horta 
que foi da casa 
ata os pontos cardeais  
são vultos transportáveis  
ao lado dum grande muro de pedra 
os olhos esforçam-se na treva ao fulgor das telas 

o rigor 
dará conta destas sacas 
alçará os retalhos 
agita-os como o vento move as velas do navio 
terra e cinza no ângulo da página 
levo-a sobre o beiço 
como quem se adorna com uma pétala de calêndula ou flor da maravilha 

numa das críticas o filósofo escreveu 
que gritamos porque somos indefesos ao nascer  
porque amamos a saída 
a evasão 
o cruzar das fronteiras 

o nascimento o luto são ingrávidos  
a placenta que nos envolveu e a terra que se desprende 

o desejo  

 

Traduzido por João Paulo Esteves da Silva para Lisbon Revisited: dias de poesia

 

 

Night falls 
a solitary and feeble light 
lies across the page 
where a man spreads huge sheets of cloth 
piles them with soil from the garden 
that belonged to the house 
ties all four corners together 
they are transportable bundles 
alongside a great stone wall 
the eyes get used to the dark in the glow of the cloths 

rigour 
will examine these huge sacks 
will pick up the bits left over 
agitate them as the wind does the sails of a ship 
soil and ash in the gutter of the page 
I raise it to my lip 
like one who adorns herself with a calendula petal or the flower of marvel-of-Peru  

in one critical essay the philosopher wrote
that we cry out because at birth we are defenseless 
because we love departure 
escape 
the crossing of borders 

birth and mourning are weightless 
the placenta that swathed us and the soil that lets go 

desire 

 

Traduzido por Erín Moure para Lisbon Revisited: dias de poesia