27 fev 2024

Nova exposição temporária da Casa Fernando Pessoa põe Almada Negreiros e Fernando Pessoa em diálogo através dos seus livros

Almada e Pessoa – Conversa entre bibliotecas mostra edições raras, manuscritos e dedicatórias personalizadas.  

As bibliotecas dos artistas e escritores deixam ver o circuito de relações que se fazem e desfazem ao longo da sua vida, as suas amizades e os seus interlocutores intelectuais. Os livros que os escritores e artistas lêem, sublinham, comentam, ilustram, editam, oferecem e recebem de oferta, são parte, fonte, ou extensão da sua obra.

Nesta exposição, com curadoria das investigadoras Giorgia Casara, Mariana Pinto dos Santos e Teresa Monteiro, mostra-se uma seleção dos livros que pertenceram a Almada Negreiros, postos em diálogo com os de Fernando Pessoa, tendo em conta a cumplicidade que partilharam, as suas amizades e projetos que tiveram em comum.
É possível ver manuscritos, livros com dedicatórias preciosas, edições raras. Na biblioteca particular de Almada Negreiros, encontram-se livros com dedicatórias assinadas por Natália Correia, Jorge de Sena, Teixeira de Pascoaes, Aquilino Ribeiro e até de Vinicius de Moraes - entre muitos outros, mostrando a rede de cumplicidades pessoais e artísticas de um dos mais multifacetados artistas portugueses do século XX.   
Almada Negreiros e Fernando Pessoa conheceram-se em 1913, e em 1915 Almada foi um dos colaboradores da revista Orpheu, criada por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, e tida como o momento inaugural da vanguarda literária e artística em Portugal.

São aqui mostradas pela primeira vez dois projetos de maquetes ilustradas da Mensagem que Almada fez, mas que nunca chegou a publicar, assim como uma primeira edição da Mensagem dedicada por Fernando Pessoa a Almada, em que o trata por «Bebé de Orpheu!»

As ligações entre Pessoa e Almada Negreiros são múltiplas: Almada foi o autor do logótipo da editora que Pessoa fundou, a Olisipo, e foi lá que publicou o seu livro A Invenção do Dia Claro, (1921), também presente na exposição.
Ambos planeavam o número 3 da revista Orpheu, projeto interrompido pela morte repentina de Fernando Pessoa, em 1935.
Segundo a curadora Mariana Pinto dos Santos, “Almada foi um impulsionador da criação do mito Pessoano. Ao isolar a sua imagem no famoso retrato que fez para o Restaurante Irmãos Unidos, onde o grupo da revista Orpheu se reunia -- e que pode ser visto na exposição permanente da Casa Fernando Pessoa -- , Almada está a inscrever-se também no mito, ao ser o autor da imagem de Pessoa que iria ser perpetuada.”
Segundo a curadora, esta é uma das mais valias desta nova exposição, abrir novas perspetivas e ligações com outras peças que integram a coleção do museu.