6 abr 2021

Voltará a haver gente

Voltar a pôr os livros nos expositores. Voltar a abri-los na página escolhida. Apoiados em bases de acrílico ou metal, os livros voltam aos chamados berços.

Preparar as vitrines, tirar as peças uma a uma sem deixar as marcas das mãos que as limpam. Sacudir, arejar, tirar panos. Deixar a descoberto. Já começam a ouvir-se os rumores das peças expostas – a nossa memória recupera as vozes e os vultos de quando havia gente no museu. E voltará a haver.

Vamos ensaiar o reencontro depois de meses de distância, como falamos, como nos relacionamos. Não temos como saber ao certo o que vai na cabeça-casa de cada um. Ainda nos mantemos afastados no comprimento de vários braços mas voltaremos à alegria de estar cara a cara.

Estamos no mês que tem o dia mais bonito do ano, o mais livre. Penso: só agora reparo nas árvores que floriram ali ao pé dos Correios e elas sempre ali estiveram. O esforço de ver é diário. Às vezes dá flor.

 

Clara Riso · Directora da Casa Fernando Pessoa